domingo, 30 de agosto de 2020

A Bênção


Do alto
Da minha descrença
Ergo aos céus
As minhas pálpebras doridas
E assim
Atravesso eu a vida
Sem nunca vislumbrar
As oferendas
Recebidas

Parece-me padecer
De uma lei suprema
Que me deu sofrida
À luz do mundo
Com todas as maldições
Do universo
A recair sobre mim
E sem nunca aprender
A torcer o pescoço
À força implacável
Deste meu Fado

Serei eu
Um fruto esconjurado
Por uma cruenta praga
Que o diabo bafejou
Aos quatro cantos
Do que sou?

Serão
A adversidade
E o sofrimento
A superior natureza
Do ser e da vida
A única maneira
De crescer
Em valor
E em sabedoria?

Rogo
Para que a desfortuna
Que avisto
Efeito ou talvez não
 Da desilusão
Que me rói por dentro
Não encerre
 Meus olhos
De pobre mortal
Na cegueira
De não saber
Ver a bênção
Que recebi
No preciso segundo
Em que nasci…

A VIDA!

(Carmen Cupido)

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Rosa Adormecida



Porquê insistes, amor ausente
Em bater-me no peito
Com o movimento rítmico
Das ondas do mar a quebrar
Nesta praia vazia que me sou

Porquê se te me insinuas
Como a papoila acarminada
Aos olhos de quem passa
Em dança frenética e ondulada
Entre as espigas douradas

Os teus olhos cor de pinheiral
Aferram-se, altivos e acirrados
À minha alma intranquila e nem sequer dobram
Sob o vento que ferozmente sopra

Na minha boca repousa
Um eco estridente da tua voz longínqua
De pássaro emigrado para longe; longe das minhas horas invernais

E deixaste-me assim, rosa adormecida
Nos mais remotos confins do teu jardim
Sob um gélido rocio, esquecida

Orvalho feito de todas as lágrimas que chorei à tua partida.

(Carmen Cupido)