quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Rosa Adormecida



Porquê insistes, amor ausente
Em bater-me no peito
Com o movimento rítmico
Das ondas do mar a quebrar
Nesta praia vazia que me sou

Porquê se te me insinuas
Como a papoila acarminada
Aos olhos de quem passa
Em dança frenética e ondulada
Entre as espigas douradas

Os teus olhos cor de pinheiral
Aferram-se, altivos e acirrados
À minha alma intranquila e nem sequer dobram
Sob o vento que ferozmente sopra

Na minha boca repousa
Um eco estridente da tua voz longínqua
De pássaro emigrado para longe; longe das minhas horas invernais

E deixaste-me assim, rosa adormecida
Nos mais remotos confins do teu jardim
Sob um gélido rocio, esquecida

Orvalho feito de todas as lágrimas que chorei à tua partida.

(Carmen Cupido)

       

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