quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Auto-Portrait


Nas minhas mãos 
A essência fresca das cores corre...
Levar aos meus olhos mundos quiméricos
Com sóis de fins de tarde fantasiosa
A pousar sobre mim 
Com seu toque de asa esplendorosa

O tempo pára 
E o instante é um mistério desvendado
A dar vida a universos insuspeitos
Onde não há futuro nem passado,
Só um agora de comprazimento
A reclamar o mínimo milímetro
De todo o seu comprimento


Palavras não há, só o silêncio
Distraído demais para se sentir só...

Nas minhas mãos
A essência das cores corre...
Vai apressada, lá vai ela
Pintar céus policromáticos
No alto da minha tela!

(Carmen Cupido)

 

domingo, 23 de janeiro de 2022

Poesia triste, tristemente declamada...

 


Alentam-me os teus olhos,

Como dois sóis, eu sei

No alto do céu da minha alma,

Quando pousam sobre mim

Com a doçura e a calma

Do rouxinol que apruma

Seu pipilo e suas plumas

Encantando-me com o seu canto

Que me chama à primavera

Que me chama à liberdade

Quando me vê trancada

No fundo da gaiola

Por Motu Próprio

Enjaulada

A orquestrar poesia triste

Tristemente declamada…

 

Mas como desprender

Tão ressequidas asas

E ao alto aspirar

Refrear o medo, dominar o ar

Descolar...

Das profundezas escabrosas

Do longo inverno; do longo inferno

Que me detém; que me retém?

 

(Carmen Cupido)


quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Opus

 


Em cada poema meu, Amor
Te faço o fruto maduro
Do meu longo e sofrido conjuro
Talvez oração, talvez ilusão
Caída da minha boca tremente
Na hora em que a garganta consente
Que, por um segundo que seja
A palavra portentosa
(Tal num opus de um violino a uma rosa)
Entoe tudo o que não pode ser dito
Arrancado a ferros ao silêncio infinito
Infinitamente maldito
    Que nos separa...

E eu, poetisa pobre e tão despida
Pela dor de tanto desamor carpida
Desfolho no verso que te declama
O quanto a minha alma te quer e te ama...

E se tu, do alto do torpor em que te encerraste
Tal bandeira em alta haste
Despiedadamente alheio ao chão
Não vês que o meu coração
Se tolhe e se agrisalha
Então, Amor, não há poesia que valha!

(Carmen Cupido)