Este é um amor em desamor
Tão presente na dor
De tanto querer quem mal me quer...
Amor quieto de sentimento profundo
A verter solidão no meu mundo
Clamor ferido que se agita
Grito estridente que ressuscita
Amor perfeito que nunca foi
Musa magoada cantando lamentos
Elevando aos céus o eco dos meus tormentos
Vazio encorpado de um alguém ausente
Mas sempre, sempre, premente
E eu, papoila louca em bailado imprudente
Fantasma que me fervilha nas veias
E quase com gozo, com toda a calma
Me assalta incessantemente a alma
Impiedoso, a sua fúria urgente
Queima, de tão incandescente
E eu, aferrada ao sonho, como outrora
Sigo nua, ingénua e acolhedora
Entre os raios ténues de cada aurora
E ele, que se importa? Se quando abre a porta
Me lança um desdém lancinante
Que amolado corta
O silêncio sufocante
Rugido sibilante de água dura
Que de tanto bater, fura
O meu coração ferido
E eu, a leda, a desamada, a sentir-me desacreditada
Quando enfim os seus olhos se pousam sobre mim, prolongados
Como se fossem lábios a beijar-me, entregados.
(Carmen Cupido)