Carmen Cupido
Um diminuto berço me recolhe onde a palavra se elide na matéria, na metáfora, necessária, e leve, a cada um onde se ecoa e resvala (Luiza Neto Jorge)
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Vives alto ó Sol
(Foto de A. Brito Olhares.com)
Vives alto ó sol, dentro de mim
E eu presa na tua altura
Por fios escorregadios ; braços de cetim
Que se me pousam à cintura
Como escalar o sol, se é tão lasso
O nó desse abraço, leve, frágil enlace
Prestes a desfazer o laço
Vives alto, tão alto ó sol, aqui dentro
Que me perco na vertigem da subida
E dessangrando, já turva, entontecida
Cravo (ai Deus que caio!) as unhas bem ao centro
Sim!Sim!
Ao centro de ti, ao núcleo ardente
De um beijo puro e quente
Da minha boca no teu peito
E sem querer solto, muito sem jeito,
Um Amo-te que se aninha em ti, seu ninho
Como um chilreio suave de passarinho…
(Carmen Cupido)
sábado, 9 de outubro de 2010
Espargata existencial
Pergunto:
Possuo certezas; ou são as certezas que me possuem?
Será que chegou o momento de aprender a perder pé?
Atirar as certezas da vida para trás das costas
Aceitar nem sempre encontrar respostas
Deixar de viver
Só em caminhos traçados
Sem desgostos, sem dúvidas, sem surpresas, bem delineados
Deixar-me contagiar por um grão de loucura
Pendurar-me de pernas para o ar
No pedaço de céu que vou conquistar
Quando abater os muros, e desabar
O tecto desta casa exígua que me sou...
Ser a outra; Ser vampiro
E morder a exclamação, ferrar o suspiro
Que os meus olhos vão arrancar à minha boca
Quando me virem fazer o pino face ao meu novo infinito
E que interessa se estou às avessas
Se só assim o mundo reverso
Do seu avesso me vê às direitas...
Sim, sim...
Vou quebrar os limites que viraram teias
Fazendo a grande limpeza ao Ser por dentro
Se quero estar pronta para a espargata existencial,
É melhor começar já a aquecer os músculos do Eu !
(Carmen Cupido)
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Nota estridente
Urge
A nota estridente
Urgente
No bico da Musa
Afia a palavra
Desusa
Que enterrei, antão
Nas entranhas do coração
Ai Amor, o canto agudo
Da esmeralda esculpida
Que se me sobe à boca!
(Carmen Cupido)
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