Debruçada sobre o dia
Caio na nostalgia
Na vontade de evasão
Que corre delirante
Ao encontro da recordação
Gritante
O sonho que desperto
De um além mais perto
Já antes o sonhei,
De tudo e todos os que deixei
Suspensos na saudade
Que me atiça sem piedade
Aqui, de pé, plantada
Sou como flor silvestre
Pelo vento, levada
Para terra alpestre
Sem me saber tremida
Sem me saber perdida
Tudo me leva ao lugar
Que me deu ao mundo
Um murmúrio no ar
Um batimento profundo
Um desejo que se esvai
No rio que vai
Para onde não sei
Sem deixar rastro do que chorei
É triste para quem se sente
Distante, diminuto, ausente
De tudo o que faz bater o coração
Porque não há suplica ou oração
Que traga de volta a vida que passa
E nem as mais belas montanhosas paisagens
E nem as cores que incendeiam as folhagens
Não há beleza; não há riqueza
Não há nada; nem ninguém
Não há rastilho que ateie o brilho
De uma alma deslustrada
Ao seu berço, por fado, arrancada.
(Carmen Cupido)