domingo, 29 de janeiro de 2012

Um gémeo à alma







































Com o ventre a despir os gritos
Sinto-me nua
E por mais que o coração uive à lua
Nem os raios aflitos
A bater na pupila cega do sentir
Explodem a  sombra
Que a si própria se assombra...

É que...
Amar assusta, é medonho
Porque se a noite vem e rapta o sonho
Nem atando o luar
Aos pés da cama , onde o divino se acama
Vai bastar para despregar as asas
E voar
Na febre de buscar
Um gémeo à alma!

(Carmen Cupido)

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O que não se diz






















Querer ter sempre a última palavra
É, às vezes, a derradeira estocada
Qual faísca a cegar o olho, qual mal que a língua lavra
A repentina mas certeira cutilada
Um cavar brechas no fundo do ser
Um não parar até o peito do outro fender
Dar o rasgo vertical definitivo
À imagem feliz
Por não saber calar
O que não se diz!

(Carmen Cupido)

domingo, 15 de janeiro de 2012

A vida não é um rio tranquilo



De nada vale o atavio
Que se lhe dá ao nosso rio
Se a vida, algoz
De tanto atafulhar a foz
Vai rebentar a inocência
Fustigar a essência
Das águas que passam por nós

E...
Pode o corpo espasmar
Pode a alma berrar
Pode o pulso chagar
Que não há mão a cerzir que valha

Viver no desamor é mesmo assim
Doer,  num dói sem fim
Abafar o Ai, mal que ele sai
Levantar, mal que se cai

É caminhar sozinho
Ir morto  vivo no caminho
E ainda assim sorrir por fora
Ignorar os queixumes da hora

Ao coração doente, silenciosamente
Remendar os cantos; e os pontos serão tantos
Para salvar o Amor que por lá anda a flutuar
Ai Deus, se tardas mais um segundo
Sinto que me afogo, me afundo!

(Carmen Cupido)