domingo, 3 de abril de 2022

Naquela tarde de Primavera



Naquela tarde primavera,
O meu coração era
Uma tormenta viva e turva

Um ulo pavoroso
Carregado de trevas
Prestes a implodir

A minha boca calada
Engolia a palavra desolada
Garganta abaixo

Lá fora, a primavera floria
Indiferente à minha agonia

Cá dentro, o céu era alvacento
E o meu sonho enegrecia

Todos os meus sentidos
Esporeavam num tumulto medonho

O meu mundo desfalecia
E no meu ventre irrompia
Uma dor lancinante que desconhecia

Ela, a que eu tanto, tanto amava
Ao mais além rumava,
Naquela tarde de primavera

A sua alma era um corcel indomável
Ansiando romper as rédeas
Que furiosamente o retinham

Ela, a que me deu a vida, se morria
Levando a primavera como rosa ao peito

A Terra chuva gélida chorava
E eu, aterrada, chorava também
Porque ela ia e eu ficava; porque ela ia e eu ficava!

(Carmen Cupido)