sábado, 17 de março de 2012

Funambulismos de salto alto





















Atravesso o instante
Em que o percalço
Me faz perder o salto
E me deixa descalço
Face ao vazio

Olho a carne que se faz aço
Sobre o fio quando eu passo
E a dor não há, não é, na ponta do pé

Sei, é o Eu lá do fundo que mo diz,
Que o grito do olho não faz sentido
Qual fruto perdido, Precocemente caído
Da árvore da alma

A vida é avançar
Equilibrar o desequilíbrio
Quão grande o desafio
Funambulismos de salto alto
Sobre o fio tenso e estreito do ser

No espaço
Já exíguo do passo
Não cabe o lamento
Só a vontade, o alento
De continuar...

(Carmen Cupido)

domingo, 11 de março de 2012

Lacrado



























Lacrei
O orgão lacaio
Em pleno ensaio
Do sentimento
Mas o caçula
Abulado criado
Mesmo lacrado
À fula-fula
Por dentro, pula!
Por fora, a bula!

(Carmen Cupido)

quinta-feira, 8 de março de 2012

Alva









































(Salvador Dali, flores surrealistas)


Vou acender o sol
E acordar a alva na folha morta.

Rasgar valas com pluma de luz
No chão ressequido aos pés da Musa.

Arrancar da mente, extirpar do ventre
Um punhado de palavras semente
Que escondi nos cantos do que sou.

Vou com cuidado,
Pois cada verso que planto tem seu reverso
Como rosa tem espinho e arranha a alma.

Cai chuva de segredos na planície do papel
Do alto do céu do mistério dos Deuses.

Logo cores pintam flores
Na pele febril do poema

Nasce do escuro, o horizonte
Como quem acende uma estrela.

(Carmen Cupido)

sexta-feira, 2 de março de 2012

Tremente Papoila









































(Papoilas Red de NãoSouEuéaOutra Fotografia)

Era eu ainda de noite feita
Nas horas em que o corpo se deita
Mas a alma, sem fé, não dorme, fica de pé
E a sombra espreita; E a sombra espreita

Não sei se no sono, se na folia
Sabes Amor, sonhei-te em mim
E que o sol já bulia...

Buliu tanto e rebuliu que tal rebuliço
Ressuscitou a tremente papoila
Que bailou, espampanante, doida,
Em meu ventre de moçoila

Ai, Amor, toda eu tremia:
Não sei se de calor, se de frio
Se de amor, se de cio...

Vi-me correr, das tripas à aorta; Em devota oração absorta
Ir rogar à minha boca, antes muda e morta
Agora vívida e escarlate; Que enfim se dilate
Na hora em que a rúbida aurora no meu peito embate

Apressei-me então e de, par em par, fui abrir as janelas do meu ser
Para acolher a madrugada mas não sei se foi sonho ou obra de fada
Olhei-me para dentro e eras tu Amor, em mim a florescer...

(Carmen Cupido)