segunda-feira, 19 de abril de 2021

Corcel Alado



Meia amargura, meia doçura
Meia laranja que nunca foi
Meia ausência, saudade inteira
Meio amor secreto e puro
Meio castigo agrio e duro

Meia treva no coração
Meia luz na escuridão
Meio canto na voz hasteado
Meio suspiro na garganta travado
Meio respiro que se expira para dentro

Meio alento em desalento
Meio vazio em peito farto
Meia coragem no intento
De te guardar por perto

Corcel alado de voo abortado
Pedaço de mim à força arrancado
Um tudo que ficou em nada
Na ponta da espada
Que a vida brande contra mim

Assim tu és, em mim!

(Carmen Cupido)

 

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Chove


Chove.

Há uma nuvem escondida
Mágoa antiga, cinzenta - encardida
A verter no meu peito.

Sinto que os meus olhos molhados
Acenam à tua ausência, túmido - demorados
Com a mão acirrada da Saudade.

Tanto, que se paro e escuto por um momento
Brada a tua voz no lânguido brado do vento
E o meu coração já apertado, freme, desassossegado.

Como tu não chegas, Amor
Vou desfolhando a desdita ferida
E o teu nome adormece na minha alma dolorida.

Sei que se penso em ti, logo existes
E logo existo, mas não mais avisto
O sonho em que nos vi.

Chove.

E só a chuva vem bater à janela
Para saber de mim no desfiar das horas
Diz-me Amor, porque tanto te demoras?

(Carmen Cupido)


 

domingo, 11 de abril de 2021

Numa só rosa



Se no meu peito ainda late a poesia
E no meu sangue corre o verso sem repouso
Levando sustento ao poema transfuso
Que outrora jazia em avernal amnesia

Se lá mora o sentimento todavia
E lhe sobra sementes à palavra
E a pluma insistente, porém tremente, ainda lavra
A garganta árida e bravia

Se ainda me sobra alento
Para desfolhar as pétalas do tempo
Plantar grãos de calma na alma
E não desesperar na espera

Se, ao cair por terra, a penosa dor
Criou raízes e se fez flor
Então, crê em mim, por favor
É amor...

E se o amor é uma dádiva preciosa
E toda a primavera cabe numa só rosa
Assim tu caberás em mim,
Por fim!


(Carmen Cupido)