segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Saudade




Este pranto é tão somente meu

Ninguém d'outro o verteu

Nem outra alma teve a piedade

De lhe matar a saudade

Nem o desespero que sofreu

Nem nunca sentiu a ânsia

De viver e amar à distância

Tudo e todos os que ama

Nem o sentimento profundo

De estar só no mundo

Quando a tristeza o chama

E o coração grita um lamento

Que se perde no uivo do vento

Nem nunca exclamou a dor

À melancolia prenunciada

Pelo avassalador temor

De a ver, por mil, multiplicada!

(Carmen Cupido)

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Papoila Louca em Bailado Imprudente


Este é um amor em desamor
Tão presente na dor
De tanto querer quem mal me quer...

Amor quieto de sentimento profundo
A verter solidão no meu mundo

Clamor ferido que se agita
Grito estridente que ressuscita
Amor perfeito que nunca foi

Musa magoada cantando lamentos
Elevando aos céus o eco dos meus tormentos

Vazio encorpado de um alguém ausente
Mas sempre, sempre, premente
E eu, papoila louca em bailado imprudente

Fantasma que me fervilha nas veias
E quase com gozo, com toda a calma
Me assalta incessantemente a alma

Impiedoso, a sua fúria urgente
Queima, de tão incandescente

E eu, aferrada ao sonho, como outrora
Sigo nua, ingénua e acolhedora
Entre os raios ténues de cada aurora

E ele, que se importa? Se quando abre a porta
Me lança um desdém lancinante
Que amolado corta
O silêncio sufocante

Rugido sibilante de água dura
Que de tanto bater, fura
O meu coração ferido

E eu, a leda, a desamada, a sentir-me desacreditada
Quando enfim os seus olhos se pousam sobre mim, prolongados
Como se fossem lábios a beijar-me, entregados.

(Carmen Cupido)