quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Na Matriz da Palavra


(Foto de Guidu Jongleur d'images www.guidu.fr)

Na Matriz da Palavra
Renasci...

Antes,
Eu era apenas um alguém ninguém
Dente que ferra
Os lábios do sonho
Que nem sangrante, berra
Minha alma decaída
Vivia numa unha roída
Poeira varrida
Para debaixo dos confins estreitos
Do escuro
Onde o Eu é um feto que se enfeza
E mesmo assim reza
Face ao muro
Que o retém

Depois,
A palavra infantou
Um ninguém
No seu colo alguém
Que cavou frinchas no muro
Abateu o escuro
E da noite que o engoliu
Vislumbrou a luz
Quando esta explodiu
Plantando estrelas no céu da sua boca

Ora a boca,
Agora cheia, antes oca
Sugou quanto podia
Não fosse o néctar da melodia
Cair como o dia
Quando o sol se deita
Em cama alheia

E sabes?
O seu peito, antes mudo
É agora um púbis de veludo
A perder as águas dos segredos
Parto iminente dos ecos secretos
Da concha do Ser!

(Carmen Cupido)