Quem sou?
O que faço aqui?
Por que caminhos me perdi
E se perdeu o ventre que me pariu
Foi naquele intérmino dia
Abominoso e escuro
Que trovoou
Sobre esta árvore
Tão verde e tão tenra
Que me sou
Raios mil pontiagudos
Que me racharam ao meio
E o céu, sedento de almas,
Se abriu de par em par
E me a levou
Gritei estridentemente
Do alto da minha boca muda
Ao vê-la, ali, deitada
Num leito de tábuas estreitas
A ser pela terra engolida
E a chuva caía, mansa e fria
A lavar-me os olhos
Das estrelas implodidas
Que me jorravam do fundo do ser
Vi-me,
Por Deus, despojada
Da minha fonte placentária
Impiedosamente arrancada
À minha mais profunda
Raiz e razão
De luz e de vida…
E desde então
Condoo-me nesta voragem
De dor e incompreensão
E não encontro em mim
A humildade da aceitação
Nem o perdão
Nem a outra face
Do bom cristão.
(Carmen Cupido)
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