Quem és tu,
ó grande imprudente
Que vens amotinar
meu Ser dormente
Nesta quase
perfeita quietude
Que teci para me esconder de ti
Vens e vais e vais e vens
Como os relâmpagos
estrondosos
Estilhaçando,
impiedosos,
Esta árvore
ressequida que me sou.
A tua voz,
ainda que melosa,
Cai em mim
como a trovoada
Que me zoa,
ruidosa
Desinquietando-me
a alma
E quando as
tuas mãos me tocam…
Oh, quando
as tuas mãos me tocam
Envolvendo-me,
por um segundo que seja,
No manto balsâmico
que tu sempre foste para mim
Logo o
sentimento que tão profundamente soterrei
No abismo
que me habita,
Desperta e
se agita.
Sinto teus
olhos medir meu ser inteiro
E nos meus
pousados, me adentram, ousados
Com a magnificência
de um sol ardente
Que,
triunfante, vem desaguar
No mar das minhas
veias
De cada gota me inebrio
Porém, sei,
sem perder o norte
Que mora,
em mim, a pouca sorte
De não ter trono
no teu peito
Se és aquele
que sabe ver
Mundos em
grãos de areia
Céus vastos
em flores selvagens
O infinito
em palmas de mão
Porque é
tão cego teu coração
Ao amor que
por ti sinto?
Não sei se
amar-te
É obra de
fada ou fado amaldiçoado
Sortilégio ou
sina que me tem
Criatura
presa, dos teus lábios rosáceos
Eu só me
sei
Terra de ti
fecunda
Onde mesmo na
tua ausência
Tua presença me inunda.
(Carmen Cupido)
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