quinta-feira, 3 de junho de 2021

O Infinito



Quem és tu, ó grande imprudente

Que vens amotinar meu Ser dormente

Nesta quase perfeita quietude

Que teci para me esconder de ti

 

Vens e vais e vais e vens

Como os relâmpagos estrondosos

Estilhaçando, impiedosos,

Esta árvore ressequida que me sou.

 

A tua voz, ainda que melosa,

Cai em mim como a trovoada

Que me zoa, ruidosa

Desinquietando-me a alma

 

E quando as tuas mãos me tocam…

Oh, quando as tuas mãos me tocam

Envolvendo-me, por um segundo que seja,

No manto balsâmico que tu sempre foste para mim

Logo o sentimento que tão profundamente soterrei

No abismo que me habita,

Desperta e se agita.

 

Sinto teus olhos medir meu ser inteiro

E nos meus pousados, me adentram, ousados

Com a magnificência de um sol ardente

Que, triunfante, vem desaguar

No mar das minhas veias

 

 De cada gota me inebrio

Porém, sei, sem perder o norte

Que mora, em mim, a pouca sorte

De não ter trono no teu peito

 

Se és aquele que sabe ver

Mundos em grãos de areia

Céus vastos em flores selvagens

O infinito em palmas de mão

Porque é tão cego teu coração

Ao amor que por ti sinto?

 

Não sei se amar-te

É obra de fada ou fado amaldiçoado

Sortilégio ou sina que me tem

Criatura presa, dos teus lábios rosáceos

 

Eu só me sei

Terra de ti fecunda

Onde mesmo na tua ausência

 Tua presença me inunda.


(Carmen Cupido)




 

Sem comentários:

Enviar um comentário