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terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Euritmia

 


Porque lá fora,

O ciclo da vida

É um intérmino mistério

Onde nada é perene

Nesta história de um mundo

Que gira obstinadamente

Eis-nos, vitoriosamente

Às portas de uma nova primavera

Por onde vagueia e se exaspera

O inóspito inverno que com sono

Se adormenta, enfim, sobre o húmus do outono

 

Na atónita invernia

Há uma neblina dissolvida

Onde as gotas rociadas

São, afinal, fadas disfarçadas

A espargir magia

A derramar vida

E, ó espanto; ó encanto!

Logo, logo

Campânulas apressadas

Se elevam do solo rasgado

Rumando ao alto, de caule esticado

E eu, de olho encharcado

Coração em arritmia

Respiração acurtada

Alio-me, extasiada

A esta deleitosa euritmia!

 

(Carmen Cupido)


terça-feira, 29 de setembro de 2020

Recomeço


Inspiro e inspira-me
O outono grávido de remanso
A dar à vida o seu cíclico descanso

Lá no alto, as Andorinhas
Já na sua dança de Adeus
No palco dos céus
Sentem que chegou a hora
De baixar as cortinas às tardes
Longas e quentes
E o verão vai-se então
Por caminhos vestidos de veludos coloridos
E as árvores, ai Deus, as árvores
São agora um Mar
Um motim de cores
Ao assalto dos meus olhos

Este novo dia traz entre dedos
As inclementes aragens
De um vento carregado
Que nos arrasta, bravio
Até as portas do frio
Onde a noite se agasalha
Estendendo as mãos e a alma
Ao calor da fornalha

Porém, a esperança
De flores, de verdes e de quentura
Adormece serena na certeza pura
Que depois do inverno
Vem um Sempiterno
Recomeço.

(Carmen Cupido)


 

domingo, 9 de outubro de 2011

À proa

















(Imagem "Outuno II" de DDIArte olhares.com)

E se o arco
Dos teus braços
Fosse um barco?
A derradeira embarcação
E a virgem, figura à proa, fosse meu coração
Que ao sol levanta, aproa
Seu corpúsculo tal uma canção
De embrandecer as ondas que rasga
Como se fossem de papel

Imagina:
Vai alto, furioso, violento
Filar o vento
Num último intento
De te alcançar; alcançar o astro
Antes que a morte venha
E apague o rastro
Do que eu sou, por dentro
Do que eu sinto, no centro

Será sonho?
Querer, em ti, navegar
Ter os teus olhos por mar
Amar; Amar-te, Amar
Antes do outono, do cair da folha
Antes que a vida finde
E no inverno, meu corpo encolha
E a terra com gula
Me engula!

(Carmen Cupido)