domingo, 9 de outubro de 2011

À proa

















(Imagem "Outuno II" de DDIArte olhares.com)

E se o arco
Dos teus braços
Fosse um barco?
A derradeira embarcação
E a virgem, figura à proa, fosse meu coração
Que ao sol levanta, aproa
Seu corpúsculo tal uma canção
De embrandecer as ondas que rasga
Como se fossem de papel

Imagina:
Vai alto, furioso, violento
Filar o vento
Num último intento
De te alcançar; alcançar o astro
Antes que a morte venha
E apague o rastro
Do que eu sou, por dentro
Do que eu sinto, no centro

Será sonho?
Querer, em ti, navegar
Ter os teus olhos por mar
Amar; Amar-te, Amar
Antes do outono, do cair da folha
Antes que a vida finde
E no inverno, meu corpo encolha
E a terra com gula
Me engula!

(Carmen Cupido)

1 comentário:

  1. [o quanto me ocorrem os versos da Barca dos Amantes, a do Sérgio Godinho, quando a canta:

    «E que em toda a parte
    o teu corpo
    seja o meu porta-estandarte
    plantado no seu mais fundo
    posso agitar-me no vento
    e mostrar a cor ao mundo...»

    da profundidade que se aconchega no suave silêncio da palavra, no poema.]

    um abraço,

    Leonardo B.

    ResponderEliminar