quarta-feira, 30 de junho de 2010

Um dedo teu de silêncio


(Silence Foto de Tiago Phelipe Olhares.com)

Um dedo teu de silêncio
Pousado nos meus lábios
Enjaulou estrelas cadentes
No céu das minhas tripas ao léu

E com a porta do ser encerrada
Já nada canta no decesso peito
Nem com nem sem jeito

Roubaste-me a poesia e o seu encanto
E o canto da lágrima, silenciada
Rasga a veia no recanto da alma

Tudo em mim se morre...
Murchas, as rosas deixam de ser, na minha boca
E as palavras são pássaros degolados
A cair aos molhos dos ramos ressequidos
Das árvores do mistério que afinal não o é

Afogo-me e não me acodes
No rio constelado dos segredos
Que de garganta aberta,
Se me verteu para dentro

Resta-me a voz dos olhos
Que dança ferida,
Perdida na voz do vento
Que se lamenta no meu lugar.

Resta-me esquecer o teu reflexo de astro brilhante
Sobre a minha sombra de mera humana

Resta-me trilhar a pé nú
A senda atulhada do Adeus
Onde à espreita, me espera
Um grito órfão de cão mal morto
Que não soube morder a pleno dente
O amor e a vida!

(Carmen Cupido)

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Oração a um anjo de luz

 (Anjo de luz, Foto de Lorena Castro olhares.com) 



Mãe,
Desce à terra 
Do céu que te contém 
Vem, mas não contes a ninguém 
Que te chamei, que preciso de ti 
Como a criança que chora... 
Ao seu anjo da guarda ora... 
Sabes? 
Que sob as mantas que cobrem meu corpo de mulher 
Sou ainda a menina que te roga 
Que pintes de azul os meus sonhos maus 
E que afugentes o monstro do armário 
Que se me cola ao sono intranquilo 
 Vem, ó anjo meu 
Guardar-me inteira; Guardar-me intacta 
Chulear com os teus dedos de luz 
Os rebordos do que sou em ponto de cruz 
Para que a minha alma 
Não se desfie em mil linhas de dor 
E que o meu Ser em pedaços 
Não rasgue os seus últimos laços 
Entre as frinchas do dissabor 
Mãe, 
Desce à terra 
Do céu que te contém 
E por um instante apenas 
Tão breve como um bater de pestanas 
Arranca as asas que te dão leveza 
Deixa a porta aberta, a luz acesa 
Suspende a eternidade 
Onde o tempo não se conta e não existe idade 
 Vem e afaga-me! 
Vem e abraça-me! 
Por um instante apenas 
Tão breve como um bater de pestanas 
Depois, podes ir. Subir, subir 
E nem eu tenho a força para te reter 
Nem espaço em mim para te conter! 

(Carmen Cupido)