sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Nascer ao contrário




























Mãe,
Se eu pudesse
Ir mais além
Nascer ao contrário
Nos dias em que não me apetece
Assaltar o mundo, ser temerário
Dobrar-me inteiro, nascer para dentro
Num rola e rebola, dar um jeito
De devolver meu Ser ao centro
De ti, do seu primeiro leito
Amniótico berçário
Colo uterino e cavitário
Que me embala e me sustém
Eternamente Mãe!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Te Amo





















Tenho olhos de fera
Especados na tua boca
A cercar um “te amo”
Que escondes na toca
E na febril espera
De caçar a palavra
Já na veia a lava lavra
O olor; O antessabor
Do que ainda não  foi dito

E o sangue pula aflito; E o sangue pula aflito!

(Carmen Cupido)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Corpus Poema Corpus



Dar Corpus ao poema,
Com o meu corpo inteiro.
Espreitar as entranhas do que sou,
Sem venda nos olhos das palavras.

Parir filhos que nascem sem pedir licença.
Sem perguntar porquê, para quê.
São, existem e ponto.

Big Bang de sarrabiscos
Que se creem sonhos de luz,
A atravessar o túnel uterino da poetisa.
Vão apressados, arrancar mundos
Ao buraco negro da alma.

Pedaços de verdade, que em forma de mentira,
Deslizam sabe-se lá de onde para o bico estreito da Pena.
Murmúrios de amor, talvez desamor, a queimarem
Os dedos de quem toca a pele do corpo do poema.

Pousar o ouvido no peito da saudade
Quando esta maldiz a ausência,
Atirando-lhe mil blasfémias à cara.

Flor de Carme que desabrocha, porque sim.
Suas raízes esburacando por dentro
A carne que toma por terra.

(Carmen Cupido)

Vice-Versa




















No acto de virar a página, não sei:

Se é o dedo que vai à língua
Ou vice-versa...

Se é o dedo que vai à página
Ou vice-versa...

Se sou eu que viro a página
Ou vice-versa...

(Carmen Cupido)