terça-feira, 3 de março de 2020

Sem Retorno. Infinito. Temo.



Temo,

Que o crepúsculo da vida seja somente um céu torvo de goela aberta.
Que pela sua garganta abaixo, resvale o ténue traço do tempo que passou, que se foi, sem saber para onde, quando e como.

Temo,

Que o cansaço dos caminhos percorridos se aferre a mim como cão a um osso.
Que na carne mordida doa a ferida mas que o grito na boca se me engula para dentro e ensurdeça o canto claro das vivências que vivi.

Temo,

Que todos os sonhos abortados pelos meus olhos semimortos tomem o meu peito como um leito de estrelas implodidas.

Temo,

Que o tempo deslize em mim e que a mórbida atonia de me ver cediça me deixe na afonia na hora de espantar a morte que me cobiça.

Temo,

Que desfaleça o sol num bater de pestanas e que nesse meu último passeio orbital, eu não escape à atração fatal do buraco negro engolidor de almas onde o vazio é...

Sem retorno. Infinito. Temo.

(Carmen Cupido)

1 comentário:

  1. <3 <3 <3 minha poetisa !!só quem é , dotada de uma infinita sensibilidade tem este dom, de fazer , sentir assim!

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