terça-feira, 28 de julho de 2020

O Pássaro, o Fardo e a Promessa


Sob este fardo
Pesado e disforme
Sou um pássaro
Que não pesa mais
Do que as suas penas
Desairosas…

E de que me serve viver
No cume da árvore
Se o céu está à distância
De umas asas enfezadas
Que não sabem
Que não podem
Voar…

Desde esta jaula
Onde me estou
Só a lua
E uma ou outra 
Estrela cadente
Me visitam por vezes
Quando a noite vem
E a incurável ferida
De morrer em vida
Me tem
De mãos (asas)
Atadas…

Prometeste-me que
Voaríamos lado a lado
Mas a tua voz perdeu-se de mim
E o teu rosto foi escorregando
Entre os meus dedos
Carregados de nuvens…

Prometeste-me
todo o inefável
Deste mundo
E deixaste-me cair
No hediondo…

Entre as pedras do caminho
Não há nada que brilhe
Nem rubis nem ametistas
E as promessas são apenas
Ervas daninhas…

E aqui me tens, ó vida
No alto de um ramo
Altiva e digna
À beira de um desdouro
Onde só o silêncio
Me honra!

(Carmen Cupido)

1 comentário:

  1. ...minha tia...k às vezes sinto tanto em mim as tuas palavras...transpiras tanta genuinidade que se sente a cada palavra tua...

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