segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Quero dizer-te, Amor

 


Quero dizer-te, Amor
Que aqui, no meu peito
És uma raíz profunda
Uma árvore majestosa
Que se ergue, ereta e digna
Ao assalto do que sinto
Do ar que respiro e também do que sou
Em todas as coisas que faço e sonho

Tua presença, imponente
Me agita vertiginosamente
E me embarca inteira
Nos teus ramos vigorosos
Num abraço apertado e fogoso
E d'entre as tuas folhagens dançantes
Vejo estrelas cintilantes
A desmaiar, incessantes
No fundo dos meus olhos

Às vezes,
Acordo de alma húmida
Na alva do que poderia ter sido
E o meu coração chora
Águas errantes que correm
Sabe-se lá para onde
Sob a lua fosforecente
Que triste e condescendente
Do alto da sua distância zenital
Me escruta.

Quero dizer-te, Amor
Que aqui, no meu peito
És um horizonte oculto
Onde os dias perseguem os traços do teu rosto
E onde me revejo, por vezes,
A enganar a saudade
Fingindo beijar teus lábios róseos
E sabes?? Quase, quase, lhes sinto o gosto

Quero dizer-te, Amor
Que aqui, no meu peito
A sede de ti parece não ter jeito
E esta absoluta sofreguidão que sinto
No céu da minha boca
É uma aridez atroz que me arranha a garganta
E me empurra para uma noite perpétua
Onde o vento uiva o agre lamento
Que eu tanto amordaço cá dentro...

Quero dizer-te, Amor!

(Carmen Cupido)


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