
(Foto de Paulo Madeira olhares.com)
Por detrás da porta fechada
Uma sombra pesava
E o terror era a poeira
Que ao soprar levantava
Uma nuvem negra que ria e troçava
E os seus pés de ferro
Faziam de mim o solo
Onde dançava
Era espectro ou fantasma;
Ou diabo sem nome
Punha na mesa a Ira
E depois ordenava: Come!
E eu apertava os dentes
E a boca encerrava
A minha fome era outra
A do pássaro que voava
Choviam mil punhos
Com lâminas de espada
A ferir a minha estrada
E os punhos eram cunhos
A empurrar-me contra o muro
E contra o muro voltados
Meus olhos revoltados,
Perdiam de vista
O futuro...
E eu retinha os sonhos
De unhas afincadas nos fios
E meus olhos eram rios
Leitos a desbordar, medonhos
Dos venenos que ele me dava
E eu vomitava; E eu vomitava...
(Carmen Cupido)