
Sou um pastor que conduz seu rebanho
Bem, confesso: Conduzir, conduzir
Não conduzo, ou seja, deixo-me ir
Porque só tenho palavras negras
Disfarçadas de ovelhas
Que não respeitam regras
E que vão soltas, cada uma ao seu ar
Pastar, nos cardeais pastos da escrita...
Às vezes, eu, simples pastor a guardar seu rebanho
Esqueço quem sou, no letargo sonho de quem aguarda
Que as ovelhas que guarda,
Encham a pança com abundância
E ergo-me, gigante, a furar o horizonte
Como se no breve sono não fosse pastor de poema pequeno
Antes fosse um Baobab na savana africana
Que nem sequer tem que levantar os ramos para tocar o sol
Mas logo acordo, em sobressalto
E salto, de lá de cima, cá para baixo
Não vá eu queimar as pontas da pluma, a sério
Mesmo que o sol que me encandeia seja astro,
Não real, miragem
Na planura da pastagem
Tenho, pois, que admitir
Ser na poesia um simples pastorinho
A guardar palavras negras
Disfarçadas de ovelhas
Que não respeitam regras
Quando mastigam letras
Não tenho a altivez do condor
Não tenho a luz da lucíola
Nem a sabedoria das abelhas
Nem o cansaço das formigas
Sou apenas cigarra a cantar
Canções de embalar
À erva Musa Menina
Para que cresça...
Lenta; Lentamente!
(Carmen Cupido)